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Reputação, liquidez e valor de mercado: O verdadeiro custo da omissão fiscal

Em um ambiente de fiscalização digitalizada, legislação volátil e exposição crescente a riscos reputacionais, os passivos fiscais deixaram de ser uma questão contábil para se tornarem um risco estratégico de alta materialidade para grandes organizações.

Este artigo analisa como falhas na gestão fiscal — muitas vezes alimentadas por sistemas legados, ausência de controles internos e cultura reativa — comprometem liquidez, reputação e competitividade. A materialização de multas, contingências e penalidades fiscais pode gerar perdas expressivas, afetar o valuation e colocar em risco movimentos estratégicos como fusões, aquisições e planos de expansão.

Para CEOs e conselhos, o recado é claro: é preciso antecipar, estruturar e integrar a gestão tributária à estratégia corporativa. Ao investir em inteligência fiscal, governança proativa e tecnologia, as empresas não apenas reduzem riscos, mas constroem uma base sólida para crescer com consistência, proteger ativos e preservar sua reputação.

O que está por trás dos números: passivos fiscais como fator de erosão de valor

Em 2023, a Receita Federal brasileira divulgou a contabilização de R$ 225,5 bilhões em autuações tributárias — uma cifra que não apenas revela o vigor da fiscalização, mas expõe a fragilidade estrutural de empresas que ainda operam com baixa governança fiscal.

Esse custo oculto, alimentado por falhas operacionais, sistemas desatualizados e ausência de controle interno, afeta diretamente a liquidez, compromete o capital de giro e prejudica o valuation. Mais que uma questão de conformidade, a recorrência de passivos fiscais e contingentes revela lacunas de gestão que colocam em risco projetos de expansão, aquisições e até a continuidade das operações.

 A fiscalização é certa: o diferencial está em como sua empresa estará preparada

Com o uso de inteligência artificial, big data e machine learning, a Receita Federal opera hoje em um nível de sofisticação que elimina a aleatoriedade. A fiscalização é cada vez mais digital, automatizada e orientada por dados cruzados. Empresas que operam com estruturas complexas e alta volumetria de transações estão, portanto, mais expostas — e cada inconsistência detectada é potencialmente multiplicada por multas que variam de 20% a 225% sobre o valor do tributo ou operação, a depender do ato apurado pela fiscalização.

Além do passivo já constituído, existem as figuras dos passivos contingenciáveis e provisionáveis. O primeiro ainda não foi materializado e pode emergir de processos judiciais e fiscalizações, mas com possibilidade de tornar um débito real se não acompanhado adequadamente. Já o segundo, é aquele que se não acompanhado, impactará direta e imediatamente no fluxo de caixa e balanço da empresa, demandando estratégia para reduzir danos e manter a informação no radar do tomador de decisão.

Quando o risco é reputacional, os números não contam toda a história

As implicações dos passivos fiscais não se limitam ao campo financeiro. A deterioração da imagem institucional é um impacto silencioso, porém duradouro. A percepção de falta de transparência ou de má gestão tributária pode abalar a confiança de investidores, afastar parceiros e reduzir drasticamente a atratividade da marca no mercado — especialmente em um ambiente no qual fatores ESG (ambientais, sociais e de governança) assumem papel central nas decisões de capital e reputação.

O histórico recente mostra que até mesmo grandes auditorias internacionais foram multadas em centenas de milhões por falhas regulatórias. Isso sinaliza que o escrutínio não é apenas técnico — ele é público, reputacional e afeta diretamente o valor de mercado das empresas envolvidas.

A raiz do problema está na estrutura, não nos profissionais

Apesar do esforço técnico das áreas fiscais, quatro  causas estruturais explicam a recorrência de falhas nas grandes organizações:

  • Complexidade e volatilidade da legislação tributária, que exigem quase 2.000 horas anuais das empresas apenas para manter a conformidade.
  • Dependência de sistemas legados, que não se atualizam com as normas vigentes, não integram dados entre departamentos e falham em garantir segurança jurídica.
  • Lacunas nos controles internos, com equipes sobrecarregadas, ausência de processos padronizados e carência de visão estratégica por parte da alta liderança.
  • Falta de capacitação contínua das equipes técnicas.

Esses fatores não indicam falta de competência, mas sim um modelo de operação fiscal ultrapassado, que exige reformulação urgente.

Liderança e estratégia fiscal: uma convergência inadiável

O enfrentamento desse cenário exige mais do que correções pontuais. É preciso mudar a natureza da relação entre liderança e função tributária. Quando os líderes assumem a pauta fiscal como estratégica, três transformações se tornam possíveis:

  • Construção de uma cultura real de conformidade, sustentada por políticas internas claras, transparência e ética.
  • Investimento em inteligência fiscal e tecnologia, com uso de dados em tempo real, automação, monitoramento contínuo e atualização automática de regras.
  • Mitigação de riscos de fiscalização, imposição de multas agravadas e redirecionamento das cobranças para os tomadores de decisão.
  • Governança tributária como apoio à tomada de decisão, com simulações, análise de cenários e integração entre fiscal, jurídico, controladoria e planejamento.

A função fiscal deixa de ser reativa e passa a apoiar o core estratégico: reestruturações, fusões, expansão, investimentos, valuation e reputação.

O verdadeiro custo da omissão é a perda de relevância

Passivos fiscais não são mais um problema técnico a ser resolvido “depois”, eles estão no centro da discussão sobre continuidade, perenidade e crescimento das empresas, notadamente em razão do desenvolvimento de métodos e sistemas modernos pelas administrações fazendárias, que identificam eventual problema quase que “ao vivo”.

Ignorar essa agenda é abrir espaço para perdas financeiras, bloqueios operacionais, dano reputacional e perda de competitividade. Por outro lado, tratá-la como estratégia permite capturar valor, proteger a reputação e gerar vantagem sustentável.

Compreendemos que proteger é também antecipar. Por isso, apoiamos grandes empresas na construção de uma governança tributária proativa, combinando tecnologia, análise e visão estratégica para transformar riscos invisíveis em escolhas conscientes — e resultados consistentes.

 

Por: Larissa Lima, jornalista Valestrá, com apoio técnico de especialistas da área de Assessoria Tributária e Regulatória.

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