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Nos últimos anos, o ESG (Environmental, Social, and Governance) consolidou-se como um marco estratégico para empresas que buscam alinhar seus modelos de negócios às demandas socioambientais e de governança modernas. No entanto, uma aplicação distorcida ou superficial dessa agenda tem gerado críticas e minado sua eficácia, especialmente quando programas de diversidade e inclusão são implementados sem uma conexão clara com a matriz de materialidade da empresa.
Entendendo a Matriz de Materialidade
A matriz de materialidade é um instrumento crucial para que as empresas identifiquem os temas mais relevantes para seus stakeholders e sua operação. O ESG bem estruturado deve priorizar aspectos que tenham impactos significativos de dentro para fora — ou seja, questões que transcendem o ambiente interno da empresa e reverberam positivamente na sociedade e no meio ambiente.
Nesse contexto, programas de diversidade e inclusão, embora socialmente valiosos, não são necessariamente componentes centrais da agenda ESG de todas as empresas. Sua relevância depende de estarem alinhados à materialidade da organização. Em setores onde esses programas não refletem impactos diretos ou indiretos no negócio e na sociedade, sua inclusão pode ser percebida como uma ação performática, fragilizando a agenda ESG como um todo.
O Efeito Reverso: Casos Recentes
O recente cancelamento de programas de diversidade e inclusão em grandes empresas, como Meta e Harley-Davidson, exemplifica os desafios de implementar essas iniciativas de maneira obrigatória ou desvinculada de objetivos estratégicos claros. Essas empresas enfrentaram cortes significativos em seus orçamentos e decidiram priorizar investimentos em áreas que demonstram impactos mais mensuráveis no curto e longo prazo.
Esses movimentos geraram questionamentos sobre a real eficácia e sustentabilidade dos programas de diversidade quando eles não estão diretamente alinhados com os objetivos do negócio ou com a geração de valor. Esse cenário também aponta para a necessidade de uma análise mais criteriosa das prioridades corporativas no contexto ESG, evitando que ele seja reduzido a um checklist de iniciativas desconectadas.
Oportunidades Perdidas e Caminhos para o Futuro
Quando aplicado corretamente, o ESG tem o potencial de gerar retornos financeiros superiores e impactos positivos substanciais para a sociedade. Estudos mostram que empresas que integram ESG de forma estratégica frequentemente apresentam maior resiliência, melhor reputação no mercado e maior capacidade de atrair investimentos.
A questão central é como aplicar os princípios ESG de forma mais robusta e eficaz. Em vez de forçar a inclusão de programas como diversidade e inclusão em empresas onde eles não são materiais, o foco deve estar na priorização de ações que maximizem os impactos sociais, ambientais e financeiros.
Conclusão
A agenda ESG não deve ser sobre agradar a todas as expectativas sociais, mas sobre gerar impactos positivos reais, sustentáveis e mensuráveis. O fortalecimento dessa agenda exige que empresas retornem às suas bases estratégicas, utilizando a matriz de materialidade como guia. Diversidade e inclusão são aspectos importantes, mas sua integração ao ESG só será bem-sucedida quando fundamentada em relevância estratégica e impacto comprovado.
Ao fazer isso, as empresas não apenas contribuem para uma sociedade mais equilibrada, mas também asseguram sua própria sustentabilidade e competitividade no longo prazo.
Texto por: Victor Hugo Moreira, especialista em ESG, tributos e finanças.